Sal e Doenças Cardíacas

Quando a ingestão de sódio é severamente restrita, o volume vascular pode cair 10-15%. Essa mudança indica que o corpo esta sob o estresse da desidratação. Neste ponto, o corpo está encarando uma emergência, e os hormônios retentores de sal são liberados em uma última tentativa de manter a homeostase, e prevenir uma grande queda da pressão arterial.

Ou seja: é um baita estresse para o corpo!

Por muito tempo se acreditou que o sal aumentava a pressão arterial sistêmica, e essa teoria, em um primeiro momento fazia muito sentido: o excesso de sal faria o corpo reter um excesso de água, e aumentar a pressão arterial. Logo, diminuir o sal da dieta diminuiria a sua pressão arterial.

Mas na verdade, ao reduzir o consumo de sal para 2,3g (1 colher de chá), a pressão arterial diminuiu 0,8/0,2mmHg, o que é uma diferença irrelevante. E inclusive naqueles com pressão alta (>ou=140/90mmHg), a redução da ingestão de sal levou apenas a uma diminuição de 3,6/1,6mmHg.

Pessoas com pressão normal,  pré hipertensão ou hipertensão arterial sistêmica podem até ter um aumento na pressão arterial, se fizerem uma restrição de sal. Isso acontece porque quando restringimos muito o sal, o corpo lança mão de mecanismos que tentam fazer a retenção do sal e da água da dieta. O que inclui o sistema renina-angiotensina-aldosterona (que aumenta a pressão arterial sistemica) e o sistema nervoso simpático (que é ativado em situações de estresse e consequentemente aumenta a frequência cardíaca). Claramente o oposto do que queremos.

Kirkendall estudou homens de meia idade com pressão arterial normal e encontraram que a mudança de uma dieta muito baixa em sodio (230mg/dia) para uma dieta rica em sódio (9,430mg/dia) por quatro semanas levaram a NENHUMA mudança na água corporal total ou pressão arterial (“The effect of dietary sodium chloride on blood pressure, body fluids, electrolytes, renal functions and serum lipids of normotensive man”)

E o pesquisador Arthur Corcoran demonstrou que mesmo entre pacientes com hipertensão arterial grave, as dietas baixas em sal foram benéficas em apenas 25% dos pacientes. Ou seja, precisa de avaliação individual.

Quase 35 anos depois da recomendação oficial de restrição de sal na dieta, se notou que não havia evidências para afirmar que uma dieta moderadamente restrita em sal poderia prevenir a hipertensão na população. E mesmo naqueles considerados sensíveis ao sal, há evidências fracas de que isso funcionou.

Os últimos estudos duplo cego, placebo controlado, demonstraram que uma dieta com restrição de sal estavam causando anormalidades comumente encontradas em pacientes com doenças coronarianas e síndrome metabólica, tais como:

  • A restrição de sal acelera o enrijecimento das artérias
  • Restrição de sal (2g por dia) em hipertensos causou aumento de marcadores inflamatórios, lipoproteínas, especialmente o LDL. Mas a restauração do sal (20g por dia) em pacientes hipertensos foi capaz de reduzir os marcadores inflamatórios, o colesterol total, o LDL e o ácido úrico.

A quantidade ideal de consumo de sal gira em torno de 3-6g. A quantidade que a população mundial costuma ingerir quando come sal à vontade.